segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O ENCONTRO DO BURITI PERDIDO

Artigo publicado na revista Brasilia, ano 3, numero 27 de marco de 1959.

Brasília equivale, sem dúvida, a um novo dimensionamento da pátria.
A Nova Capital não vale apenas pelo seu aspecto material, como arrojada concepção arquitetônica e urbanística, a consagrar, entre nós, as mais convincentes conquistas da inteligência a serviço dos anseios de conforto e bem estar do homem civilizado; nem tão somente pelos benefícios a resultarem da retirada dos órgãos governamentais do tumulto do Rio de Janeiro e posterior localização dos Três Poderes em sítio de clima ameno e repousante. Importa isto sim - muito mais pela ampla significação social de que se reveste.
Ao lançarmos à contemplação da realidade brasileira, o que nos salta aos olhos, da visão panorâmica, é o gráfico de uma defeituosa distribuição de valores, fazendo erguer, ao longo da linha litorânea, em torno do atual centro administrativo, um autêntico Himalaia, que corresponde às áreas de maior adensamento demográfico. Contraste visual com o restante dos 33% ocupados do país, onde predomina a paisagem melancólica mal quebram insignificantes ondulações.
Esquecidas as fecundas e desoladas paragens goiano-mato-grossense e considerando, por motivo de ordem afetiva, apenas o São Francisco, tempos, por exemplo, como certo, que Brasília vai representar aquele esforço de valorização do homem, indispensável à mato-grossenses de recuperação da grande corda potâmica. Há dois séculos escreve-se, nas barrancas do "Nilo Brasileiro", uma página dolorosa de degradação, em que o homem abandonado ao despotismo de uma natureza singular, a um tempo, dadivosa madrasta, definha intelectual, técnica e socialmente. Centro irradiador de cultura e de riqueza, a Nova Capital surge, assim, ao deprimido habitante dos 115 mil quilômetros quadrados, que compõe os municípios ribeirinhos do noroeste do Estado, como autêntica via de salvação. Bafejo de u´a mentalidade nova, mercado compensador, valorização do trabalho e da vida. Não é só, porém. Se a obra que se ergue no Planalto é iniciativa do mais puro sabor nacionalista, não há a negar que se reveste também de evidente caráter universalista. Pois que, favorecendo, pelo deslocamento do centro de gravitação social da nação, o processo vitalizador de imensas áreas inaproveitadas, estará contribuindo, sem dúvida, no preparo do país para a predestinação histórica de aglutinador de povos, condição que sua extensão territorial, seus recursos naturais e suas possibilidades parecem lhe assegurar, em futuro não muito distante. Brasília será decisivo na fixação do estrangeiros nas promissoras longínquas regiões planaltinas. Um dia não muito remoto - veremos, certamente, as planuras, hoje, ermas do Planalto Central pontilhadas de núcleos e de campos de cultura, onde, lado a lado e, irmanados no mesmo afã de criara, de produzir brasileiros e estrangeiros estarão escrevendo a epopeia da civilização, em pelo coração da América. Então se dará o encontro do buriti perdido, com que sonhou o saudoso Afonso Arinos nos delicados vôos de sua privilegiada inteligência.
Ainda em fase de construção, a Nova Capital já nos deu prova cabal de sua vitalidade e capacidade no encaminhamento de problemas magnos da pátria e da influência salutar que exercerá, como elemento de penetração e de colonização, como a rodovia Belém-Brasília, empreendimento, há muito reclamado e que não mais se poderia adiar, como passo fundamental, no sentido da real ocupação, que se impõe , no anecúmeno desse imenso e desconhecido Brasil interior.
De tal sorte se define assim, a futura Capital que nenhuma crítica se poderá, com justiça, contrapor sua construção. A suposta precipitação censurada por alguns explica-se nas próprias circunstâncias que envolvem a obra. Quem tem um sonho a realizar deve ter pressa na execução. Ressalte-se, ainda, que, há muito está sentida a necessidade da empresa, apenas protelada à falta de oportunidade que, agora, surge nos traços psicológicos a estruturarem as personalidades responsáveis pela ciclópica tarefa.
Jamais conseguiríamos Brasília num prazo longo, digamos 10 ou 20 anos. Os planos de execução demorada fenecem languidamente como as planas sem adubo. Brasília a prestações! Impossível!
A Nova Capital!, que deve refletir o espírito do Brasil, tem de ser, desde o nascimento, como as linhas da arquitetura, que a embeleza: dinâmica, vigorosa, revolucionária. Flor dos trópicos, deve surgir com a impetuosidade dos rebentos alentados por uma natureza fecunda, de luz e calor. Divisa de dois mundos - o Brasil de ontem, litorâneo e prosaico e o Brasil de amanhã, robusto e construtivo - ela, que transformará, em velho, o moderno de hoje, não poderá fugir à característica de toda inspiração verdadeiramente renovadora. Nas artes, nas ciências, na filosofia, na política, na técnica, onde quer que seja, o progresso, é geralmente, produto de uma centelha, uma percepção momentânea, que surge rápida, mas fulgurante mente, como relâmpago. A urgência constitui-se numa das grandes virtudes de Brasilia. A Nova Capital e um momento precioso da nossa renovação politica, social e econômica.

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